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Tema clássico, o do amor maternal, mas aqui com toda a crueza dos escritos naturalistas: o conto "Mãe" emociona com a descrição do parto dos gêmeos da pobre Leocádia, em que um dos bebês é monstruoso... Suspense, leitura que prende do início ao fim! Outra dor feminina, a da amante, é o tema do conto "Calvário", onde a personagem Olga desfila em um fluxo de consciência que nos faz íntimos dela o descontrole de suas emoções por conta da paixão por Roberto.

Eis um daqueles contos em que não é possível parar de ler até se conhecer o desenlace do enredo! A história começa com um refinado húngaro chamado Wencesláo Czolski, em Teresópolis, galanteado Regina, filha de um rico comendador. O pai dela não gosta da cena e a leva de volta ao Rio, junto com as irmãs.

Dos textos mais legitimamente naturalistas de Carmen Dolores, este conto "Nihil sumus"! Nele se conta a história da diva Lisa Vignon – a "Lili" –, que depois de ser a grande estrela dos musicais cariocas, adoece do fígado e vai se refugiar na estância mineira de Lambari, numa tentativa de recuperar a saúde. Ali, ela defronta uma rival, a jovem cantora Nina, e decide enfrentá-la. O desfecho é... cruel,

Em "Crepúsculo", a singular personagem Dona Lurinda ("Sinhá velha") conta ao Dr. Brito a sua história, revelando a razão de sua surpreendente condição de penúria e solidão. Carmen Dolores faz uso aqui da intertextualidade com a narrativa Tolstói, bem como sua reflexão sobre a condição humana. Já em "Duelo", não são armas brancas ou de fogo aquelas que os personagens Luísa e Armando utilizam em seu eu embate de paixão ardente, mas sim os olhares; o narrador usa o recurso de ler os pensamentos de ambos para trazer ao leitor a imagem desse duelo.

Dois textos de Carmen Dolores com a crueza do Naturalismo com que a autora tempera sua literatura. O conto "Hotel para famílias" traz a história do quase engodo de Heitor de Magalhães, que se apaixona perdidamente por uma nobre austríaca que é, na verdade, uma golpista. Já em "Histórias de cada dia", o leitor flagra o rompimento dos amantes Celso e Leonor, porque ele, paralelamente ao caso, tem relações com uma prima jovem e é obrigado a casar-se com ela.

O leitor encontra aqui dois contos sobre a vida dos artistas. Em "Nos bastidores", Carmen Dolores traz para a frente da cena a vida de artistas nos bastidores de um teatro, tendo por centro da narrativa o comportamento volúvel do ator Gabriel. Já no conto "Vicissitudes de um artista", o leitor conhece a triste história do tenor Cambado, que vai do estrelato em Milão ao desprezo pelo público.

Dois textos com o tom naturalista característico de Carmen Dolores. "Que é na realidade uma ruptura de verdadeira paixão senão uma espécie de morte?", pergunta o narrador de "O guarda-roupa", questionando o desejo de vingança da personagem Helena Fragoso diante da descoberta de que seu antigo amante tem outra mulher. Já em "Sob as cinzas", uma surpreendente revelação – uma paixão adormecida da doce tia Filomena – convida à discussão da força dos sentimentos na velhice.

Luciana perdeu tudo depois que o pai partiu e ela foi rejeitada por toda a sociedade, acabando por morar num casebre abandonado da zona rural. Numa rara escapada do meio urbano, Carmen Dolores ilustra nesse conto o princípio naturalista da natureza do ser humano, em que a personagem quer apenas "mergulhar mais e mais no torpor dessa vida animal, repousante e estúpida, sem ideias, sem desejos, sem projetos".

No conto "Se a paixão existe", amigos reunidos na casa do jornalista Márcio discutem os sentidos da paixão. Enlevados pela música ao piano, executada por Garcia, acabam por descobrir a resposta através de um exemplo real – que vai na contramão do que fora concluído Surpreendente! Já em "A mentira", a cumplicidade feminina se faz presente quando a personagem Laurita decide contar à tia Aninha toda a verdade sobre seu adultério.

Com traços secos, Carmen Dolores desenha nesse conto "Abdicação" a dor da personagem Matilde, que assiste, envelhecida por conta de uma doença, à degeneração de seu corpo. O enredo que emoldura essa reflexão tem por fundo um baile no bairro da Glória, Rio de Janeiro, em que seu marido Arsênio e sua filha Luizita brilham na pista de dança, enquanto ela, apensar de todo cuidado na preparação da maquilagem e da roupa, mal é notada.

Um relacionamento amoroso rompido pode ser reatado? No conto "Último Clarão", Carmen Dolores explora a psicologia do casal Amália de Aguiar, viúva, e Cláudio Monteiro. Passados dois anos do rompimento de seu namoro ardente, ele, casado, e ela, curada do sofrimento da separação, se reencontram na idílica Petrópolis. E fica no ar a pergunta!

Os amigos Eliana e Lourenço conversam no jardim. Ela, mulher sofrida por razões não reveladas, confidencia seu desejo de morrer e, assim, deixar de assistir aos males do mundo. Eis o cenário desse conto sensível de Carmen Dolores, que muito lembra aqueles da portuguesa Florbela Espanca, e que serve de base para a discussão desse tema tão caro aos escritores da virada do século XIX para o XX: a morte. O contraponto, todavia, é o amor. Será que Lourenço demove a amiga da ideia fixa?